sexta-feira, 26 de julho de 2013

RESENHA CRÍTIVA LUDWIG VAN BEETHOVEN


      Beethoven foi um compositor extraordinário. Suas obras permanecem até hoje potentes e obsessivas. O curioso é que algumas ele foi incapaz de ouvir. Os conflitos que permeiam suas obras são justamente o que as tornam tão atraentes, tendo em vista que eles sempre estiveram presentes na vida desse compositor, seja na luta contra a surdez, ou pela sua liberdade de expressão musical, e até mesmo na sua determinação em ser um artista em seus próprios termos.
Quanto ao material fornecido para pesquisa, ele divide a história de Ludwig Van Beethoven em três etapas.
            A primeira, intitulada Beethoven, o rebelde, nos mostra ele ainda em sua infância. Nascido na cidade de Bonn, pertencia a uma família de músicos da corte. Talvez, essa independência musical que demonstra ao longo de sua vida se dê porque desde muito cedo teve que aprender a defender-se sozinho. Seu talento para tocar piano provavelmente foi herdado de seu avô, um músico de renome, que foi diretor musical da corte. No entanto, aprendeu os primeiros acordes com Johann, seu pai, que era professor de música. Seu primeiro trabalho foi como organista da corte. Com apenas treze anos nessa época, ele começou a estudar as obras de Bach, Mozart e Haydn, e suas primeiras evidências do seu talento como compositor começam a ser percebidas.
            Aos dezenove anos, chama a atenção dos governantes de Bonn. E assim ganha sua primeira oportunidade musical: escrever uma cantata em comemoração a morte de Joseph II. Essa música era doce e suave. Nessa época Beethoven era um jovem idealista, e também muito exigente. Deixa seu passado para traz dando a essa obra uma imagem idealizadora da era dourada do idealismo aristocrático, no momento em que a Europa estava à beira de uma revolução devastadora. Depois de ser reconhecido em sua cidade, ele resolveu ampliar seus horizontes, indo estudar com Joseph Haydn em Viena, capital musical da Europa.
            A morte de seu pai marca o final de sua infância. Nessa nova fase de sua vida, começa e frequentar os salões de Viena.  Essa transformação se reflete em sua música, que passa a ser como sua personalidade: única, marcante, forte e inovadora, diferente da doce cantata que compunha anteriormente. Porém, essa nova música era complexa demais para a sociedade da época. Seu professor, Haydn o aconselhou a colocar um pouco “de Haydn” nessa obra, mas Beethoven recusou na hora, porque sua intenção era que seu trabalho fosse reconhecido como único, diferenciado de outros compositores e até mesmo de Haydn, seu professor. O interessante é que foi justamente esse perfil de pianista que o levou a fama em Viena, onde participava de uma competição na qual os compositores deviam improvisar em obras para piano. Foi justamente nessa época que começaram a aparecer os primeiros sinais de sua surdez.
            Os últimos anos do Século XVIII parecem ter sido os mais felizes de sua vida: sucesso profissional, proteção e lisonja de poderosos e amizades profundas. Nessa etapa feliz apaixonou-se por uma jovem de dezessete anos, Giulieta, e para ela compôs uma sonata intitulada sonata quase uma fantasia. Tal composição, porém só ficou famosa após seu falecimento. Nela, Beethoven demonstrou para improvisação. Comparada as obras tocadas em público, percebe-se novamente uma melodia suave e delicada, e ao mesmo tempo nova e sombria que não parece combinar com a sua personalidade “pública” .  Enquanto ganhava mais fama a cada dia que passava, seu problema auditivo piorava. E como não queria que ninguém soubesse, foi isolando-se a cada dia. Sentido que seu tempo estava esgotando, começou a escrever três a quatro composições ao mesmo. Essas composições demonstravam entre melancolia e exuberância.  Assim nascera a sinfonia nº2 em D maior.  Por fim, como era uma pessoa pública, para poder afastar-se da sociedade foi passar um tempo em uma cidade pequena nos arredores de Viena, para relaxar e ao mesmo tempo encontrar a cura para sua doença. Percebendo que tal cura não existia, perdeu toda a esperança, fato que o fez embarcar em outro caminho, e a compor a sinfonia Heroica. Beethoven tinha inicialmente a ideia de dedicar a sinfonia à Napoleão Bonaparte.
            Na verdade, Beethoven demonstrou em suas composições sua ânsia de viver em diversas etapas de sua vida. Podemos ver algumas de suas obras mais brilhantes e composições mais prodigiosas serem escritas em momentos mais difíceis e angustiantes, onde para muitas pessoas tal fato seria totalmente impossível. Isso nos leva a concluir que muitos problemas serviram de fonte inspiradora para ele. Situações difíceis e estressantes foram à alavanca impulsionadora de composições simplesmente brilhantes.
            Nunca um artista produziu tantas obras-primas em um espaço tão curto de tempo, como Beethoven na sua segunda fase. Durante ela, foram compostas algumas de suas mais belas obras, como a Sinfonia nº 3 e a Sinfonia nº 6 (Pastoral).        Aos 35 anos, reconhecendo que realmente ficaria surdo, afastar-se de todo o drama que essa doença causou, com sua característica rebeldia. Ainda assim, era o compositor mais afamado da Europa. Essa foi uma época onde as forças de Napoleão marchavam pelos continentes e haviam ocupado Viena recentemente. Beethoven, como todo grande compositor havia decidido compor uma ópera, a qual deu o nome de Leonora. Essa, narrava à história de uma heroína que resgata seu marido da prisão, onde ia ser executado. Porém, sua estreia foi composta praticamente por oficiais franceses, o teatro não encheu como esperado.   Beethoven recebeu críticas de várias pessoas, entre elas, Baron Peter Von Braun e Príncipe Karl Lichnowsky. Segundo Karl, havia problemas com a obra: era sofisticada e longa demais, além de precisar de mais drama. Como de costume, não recebeu tais críticas de uma forma construtiva, e colocou a culpa das dificuldades da ópera no tenor. Mesmo contra sua vontade, acabou editando essa ópera. Ainda assim não foi o sucesso esperado por todos. Quando questionado, respondeu: eu não componho para multidões.  Assim, trancou sua ópera e cancelou as apresentações. Como ainda era professor de piano, apaixonou-se novamente por uma aluna, a condessa Josephine Deyn, e para ela compôs uma obra a qual chamou de Ich Denke Dein. Esta melodia é um grande, efusão sentimental, paixão e de cor. Estava tão apaixonado que chegou a pedir a condessa em casamento, porém, diante a sua recusa foi mais um golpe me sua vida, a situação financeira em que encontrava-se era instável e sua surdez crescente o isolava.      
            No entanto, seu irmão encontrou o amor, através de uma moça de classe social mais baixa, o que fez com que Beethoven não aceitasse o casamento. Ao se sentir incompreendido e frustrado, transferia suas tensões para as obras que estava compondo. Um exemplo disso é a sonata para piano apassionata, uma melodia furiosa, trágica e desesperada, revelando um homem nas profundezas do limite humano.
            Pôr volta de 1815 aparece uma nova personagem na vida de Beethoven: o sobrinho Karl, filho de seu irmão Kaspar, mesmo emocionado com a chegada de um novo membro em sua família, ele se recusa por oito anos a conhecê-lo, por achar que Johane não pode fazer parte da família Beethoven. Outro personagem que aparece também é o arquiduque Rudolp, um músico que logo se tornou seu patrono. Durante o século XIX, na véspera de natal, ele realizou um concerto gratuito, onde algumas obras como a quinta sinfonia, sinfonia pastoral e o concerto para piano nº4 poderiam ser ouvidas. Esse seria seu concerto de afirmação, e toda Viana queria ver como ele havia refinado seus dons. Era um repertório enorme, em uma única partitura, cheia de tensões e emoções variadas, mas a orquestra conseguiu assimilar. A estreia foi em dezembro, e dessa vez com o teatro totalmente lotado. A obra mais eletrizante apresentada foi a 5º sinfonia, brutal, compacta, chocante e totalmente brilhante. Depois da apresentação, recebeu ofertas para trabalhar fora de Viena. Seus patronos ao perceberem que dessa forma o perderiam, elaboraram um contrato onde ficava acordado que Beethoven continuaria morando na cidade e receberia um salário vitalício para compor onde, quando e o que quisesse.
            Algum tempo depois novamente ele apaixonou-se, dessa vez pela esposa de um comerciante, chamando-a de minha amada imortal. Ele era correspondido nesse sentimento, porém não queria causar sofrimento a um amigo. Ficou devastado com o fim desse relacionamento.  Ao mesmo tempo sua audição começou a deteriora-se mais rapidamente, e parou de viver. Destino ou não, encontrou nessa época seu irmão que estava doente de tuberculose. Isso fez com que tivesse a oportunidade de reunir sua família novamente. Antes da sua morte, seu irmão assina um documento onde faz de Beethoven o tutor de seu sobrinho. Enquanto isso, por obra do destino, sua ópera Leonora foi escolhida para ser executada antes da reunião de cabeças coroadas no congresso de Viena e dessa vez foi um sucesso, que fez dele o mais famoso dos compositores da Europa.
            Com a morte do irmão, o período inovador e heroico de Beethoven termina. O mestre fica completamente surdo. Retira-se do mundo, contente com a companhia de poucos amigos. Passa as noites na taverna. Este é o Beethoven que nós conhecemos: um esquisitão mal vestido, por vezes imundo, que brigava com vizinhos e fazia passeios solitários, intermináveis. Essa última fase de sua vida é marcada pela disputa no tribunal por seu sobrinho, na qual a mãe acaba por perder a guarda. Indo morar com o tio, que havia prometido para si mesmo que o criaria com dedicação, virtude e seu próprio exemplo, Carl sofre com a sua personalidade, muitas vezes sendo punido pelo tio por fugir para visitar sua mãe escondido, isso faz com que Beethoven fique a beira de um colapso emocional. E como era de se esperar da sua personalidade, o leva a criações radicais, rompendo dois anos de isolamento, coma a mais notável de suas sonatas para piano, hammerklavier. Ela usa todas as possibilidades do piano, e habilidades técnicas nunca usadas antes por ele.
            Sua cunhada tenta mais uma vez recuperar a guarda do filho, mas perde novamente.  Isso fez com que Carl até tentasse suicídio. Esse fato fez com que seu tio deixasse que ele seguisse seu próprio caminho. O último concerto em que, já incapaz de reger, mostrou-se em público, ocorreu em dia 7 de maio de 1824. Foi o seu último triunfo: executaram-se a "IX Sinfonia" e trechos da “Missa Solemnis”
            Quando Beethoven morreu, em Viena, de cirrose hepática, no dia 26 de março de 1827, vivia quase na miséria. Mas a sua posição já era a mesma de hoje: o maior compositor moderno.
Assim como Michelangelo, iniciando o Barroco, domina as artes plásticas do século XVII, Ludwig van Beethoven domina o cenário musical do século XIX. A música programática de Berlioz, a música dramática de Wagner e a música absoluta de Brahms devem-lhe tudo. Quando Beethoven morreu, em Viena, de cirrose hepática, no dia 26 de março de 1827, vivia quase na miséria. Mas a sua posição já era a mesma de hoje: o maior compositor moderno.
            Assim como Michelangelo, iniciando o Barroco, domina as artes plásticas do século XVII, Ludwig van Beethoven domina o cenário musical do século XIX. A música programática de Berlioz, a música dramática de Wagner e a música absoluta de Brahms devem-lhe tudo. Um compositor, como já citado antes, brilhante. Seu temperamento explosivo esteve a todo o momento presente em suas obras e suas insistências por realizar composições exclusivas fizeram dele um artista singular, tanto que ficou imortalizado através delas.

Milhares de pessoas cultivam a música; poucas porém têm a revelação dessa grande arte.




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