Beethoven foi um compositor
extraordinário. Suas obras permanecem até hoje potentes e obsessivas. O curioso
é que algumas ele foi incapaz de ouvir. Os conflitos que permeiam suas obras são
justamente o que as tornam tão atraentes, tendo em vista que eles sempre
estiveram presentes na vida desse compositor, seja na luta contra a surdez, ou
pela sua liberdade de expressão musical, e até mesmo na sua determinação em ser
um artista em seus próprios termos.
Quanto ao material fornecido
para pesquisa, ele divide a história de Ludwig Van Beethoven em três etapas.
A primeira, intitulada Beethoven, o rebelde, nos mostra
ele ainda em sua infância. Nascido na cidade de Bonn, pertencia a uma família
de músicos da corte. Talvez, essa independência musical que demonstra ao longo
de sua vida se dê porque desde muito cedo teve que aprender a defender-se
sozinho. Seu talento para tocar piano provavelmente foi herdado de seu avô, um
músico de renome, que foi diretor musical da corte. No entanto, aprendeu os
primeiros acordes com Johann, seu pai, que era professor de música. Seu
primeiro trabalho foi como organista da corte. Com apenas treze anos nessa
época, ele começou a estudar as obras de Bach, Mozart e Haydn, e suas primeiras
evidências do seu talento como compositor começam a ser percebidas.
Aos dezenove anos, chama a atenção dos governantes de
Bonn. E assim ganha sua primeira oportunidade musical: escrever uma cantata em
comemoração a morte de Joseph II. Essa música era doce e suave. Nessa época Beethoven
era um jovem idealista, e também muito exigente. Deixa seu passado para traz
dando a essa obra uma imagem idealizadora da era dourada do idealismo
aristocrático, no momento em que a Europa estava à beira de uma revolução
devastadora. Depois de ser reconhecido em sua cidade, ele resolveu ampliar seus
horizontes, indo estudar com Joseph Haydn em Viena, capital musical da Europa.
A morte de seu pai marca o final de sua infância. Nessa
nova fase de sua vida, começa e frequentar os salões de Viena. Essa transformação se reflete em sua música,
que passa a ser como sua personalidade: única, marcante, forte e inovadora,
diferente da doce cantata que compunha anteriormente. Porém, essa nova música
era complexa demais para a sociedade da época. Seu professor, Haydn o
aconselhou a colocar um pouco “de Haydn” nessa obra, mas Beethoven recusou na
hora, porque sua intenção era que seu trabalho fosse reconhecido como único,
diferenciado de outros compositores e até mesmo de Haydn, seu professor. O
interessante é que foi justamente esse perfil de pianista que o levou a fama em
Viena, onde participava de uma competição na qual os compositores deviam
improvisar em obras para piano. Foi justamente nessa época que começaram a
aparecer os primeiros sinais de sua surdez.
Os últimos anos do Século XVIII parecem ter sido os mais
felizes de sua vida: sucesso profissional, proteção e lisonja de poderosos e
amizades profundas. Nessa etapa feliz apaixonou-se por uma jovem de dezessete
anos, Giulieta, e para ela compôs uma sonata intitulada sonata quase uma fantasia. Tal composição, porém só ficou famosa
após seu falecimento. Nela, Beethoven demonstrou para improvisação. Comparada
as obras tocadas em público, percebe-se novamente uma melodia suave e delicada,
e ao mesmo tempo nova e sombria que não parece combinar com a sua personalidade
“pública” . Enquanto ganhava mais fama a
cada dia que passava, seu problema auditivo piorava. E como não queria que
ninguém soubesse, foi isolando-se a cada dia. Sentido que seu tempo estava
esgotando, começou a escrever três a quatro composições ao mesmo. Essas
composições demonstravam entre melancolia e exuberância. Assim nascera a sinfonia nº2 em D maior. Por
fim, como era uma pessoa pública, para poder afastar-se da sociedade foi passar
um tempo em uma cidade pequena nos arredores de Viena, para relaxar e ao mesmo
tempo encontrar a cura para sua doença. Percebendo que tal cura não existia,
perdeu toda a esperança, fato que o fez embarcar em outro caminho, e a compor a
sinfonia Heroica. Beethoven tinha inicialmente a
ideia de dedicar a sinfonia à Napoleão Bonaparte.
Na verdade, Beethoven demonstrou em
suas composições sua ânsia de viver em diversas etapas de sua vida. Podemos ver
algumas de suas obras mais brilhantes e composições mais prodigiosas serem
escritas em momentos mais difíceis e angustiantes, onde para muitas pessoas tal
fato seria totalmente impossível. Isso nos leva a concluir que muitos problemas
serviram de fonte inspiradora para ele. Situações difíceis e estressantes foram
à alavanca impulsionadora de composições simplesmente brilhantes.
Nunca um artista produziu tantas
obras-primas em um espaço tão curto de tempo, como Beethoven na sua segunda
fase. Durante ela, foram compostas algumas de suas mais belas obras, como a
Sinfonia nº 3 e a Sinfonia nº 6 (Pastoral). Aos 35 anos, reconhecendo que realmente
ficaria surdo, afastar-se de todo o drama
que essa doença causou, com sua característica rebeldia. Ainda assim, era o compositor
mais afamado da Europa. Essa foi uma época onde as forças de Napoleão marchavam
pelos continentes e haviam ocupado Viena recentemente. Beethoven, como todo
grande compositor havia decidido compor uma ópera, a qual deu o nome de Leonora.
Essa, narrava à história de uma heroína que resgata seu marido da prisão, onde
ia ser executado. Porém, sua estreia foi composta praticamente por oficiais
franceses, o teatro não encheu como esperado. Beethoven
recebeu críticas de várias pessoas, entre elas, Baron Peter Von Braun e
Príncipe Karl Lichnowsky. Segundo Karl, havia problemas com a obra: era
sofisticada e longa demais, além de precisar de mais drama. Como de costume,
não recebeu tais críticas de uma forma construtiva, e colocou a culpa das
dificuldades da ópera no tenor. Mesmo contra sua vontade, acabou editando essa
ópera. Ainda assim não foi o sucesso esperado por todos. Quando questionado,
respondeu: eu não componho para multidões. Assim, trancou sua ópera e cancelou as
apresentações. Como ainda era professor de piano, apaixonou-se novamente por
uma aluna, a condessa Josephine Deyn, e para ela compôs uma obra a qual chamou
de Ich Denke Dein. Esta melodia é um
grande, efusão sentimental, paixão e de cor. Estava tão apaixonado que chegou a
pedir a condessa em casamento, porém, diante a sua recusa foi mais um golpe me
sua vida, a situação financeira em que encontrava-se era instável e sua surdez
crescente o isolava.
No entanto, seu irmão encontrou o amor, através de uma
moça de classe social mais baixa, o que fez com que Beethoven não aceitasse o
casamento. Ao se sentir incompreendido e frustrado, transferia suas tensões
para as obras que estava compondo. Um exemplo disso é a sonata para piano apassionata, uma melodia furiosa,
trágica e desesperada, revelando um homem nas profundezas do limite humano.
Pôr volta de 1815 aparece uma nova personagem na vida de
Beethoven: o sobrinho Karl, filho de seu irmão Kaspar, mesmo emocionado com a
chegada de um novo membro em sua família, ele se recusa por oito anos a
conhecê-lo, por achar que Johane não pode fazer parte da família Beethoven. Outro
personagem que aparece também é o arquiduque Rudolp, um músico que logo se
tornou seu patrono. Durante o século XIX, na véspera de natal, ele realizou um
concerto gratuito, onde algumas obras como a quinta sinfonia, sinfonia pastoral
e o concerto para piano nº4 poderiam ser ouvidas. Esse seria seu concerto de
afirmação, e toda Viana queria ver como ele havia refinado seus dons. Era um
repertório enorme, em uma única partitura, cheia de tensões e emoções variadas,
mas a orquestra conseguiu assimilar. A estreia foi em dezembro, e dessa vez com
o teatro totalmente lotado. A obra mais eletrizante apresentada foi a 5º
sinfonia, brutal, compacta, chocante e totalmente brilhante. Depois da
apresentação, recebeu ofertas para trabalhar fora de Viena. Seus patronos ao
perceberem que dessa forma o perderiam, elaboraram um contrato onde ficava
acordado que Beethoven continuaria morando na cidade e receberia um salário
vitalício para compor onde, quando e o que quisesse.
Algum tempo depois novamente ele apaixonou-se, dessa vez
pela esposa de um comerciante, chamando-a de minha amada imortal. Ele era correspondido nesse sentimento, porém não
queria causar sofrimento a um amigo. Ficou devastado com o fim desse
relacionamento. Ao mesmo tempo sua
audição começou a deteriora-se mais rapidamente, e parou de viver. Destino ou
não, encontrou nessa época seu irmão que estava doente de tuberculose. Isso fez
com que tivesse a oportunidade de reunir sua família novamente. Antes da sua
morte, seu irmão assina um documento onde faz de Beethoven o tutor de seu
sobrinho. Enquanto isso, por obra do destino, sua ópera Leonora foi escolhida para ser executada antes da reunião de
cabeças coroadas no congresso de Viena e dessa vez foi um sucesso, que fez dele
o mais famoso dos compositores da Europa.
Com a morte do irmão, o período inovador e heroico de
Beethoven termina. O mestre fica completamente surdo. Retira-se do mundo,
contente com a companhia de poucos amigos. Passa as noites na taverna. Este é o
Beethoven que nós conhecemos: um esquisitão mal vestido, por vezes imundo, que
brigava com vizinhos e fazia passeios solitários, intermináveis. Essa última
fase de sua vida é marcada pela disputa no tribunal por seu sobrinho, na qual a
mãe acaba por perder a guarda. Indo morar com o tio, que havia prometido para
si mesmo que o criaria com dedicação, virtude e seu próprio exemplo, Carl sofre
com a sua personalidade, muitas vezes sendo punido pelo tio por fugir para
visitar sua mãe escondido, isso faz com que Beethoven fique a beira de um
colapso emocional. E como era de se esperar da sua personalidade, o leva a
criações radicais, rompendo dois anos de isolamento, coma a mais notável de
suas sonatas para piano, hammerklavier. Ela
usa todas as possibilidades do piano, e habilidades técnicas nunca usadas antes
por ele.
Sua cunhada tenta mais uma vez recuperar a guarda do
filho, mas perde novamente. Isso fez com
que Carl até tentasse suicídio. Esse fato fez com que seu tio deixasse que ele
seguisse seu próprio caminho. O último concerto em que, já incapaz de reger,
mostrou-se em público, ocorreu em dia 7 de maio de 1824. Foi o seu último triunfo:
executaram-se a "IX Sinfonia" e trechos da “Missa Solemnis”
Quando Beethoven
morreu, em Viena, de cirrose hepática, no dia 26 de março de 1827, vivia quase
na miséria. Mas a sua posição já era a mesma de hoje: o maior compositor
moderno.
Assim como
Michelangelo, iniciando o Barroco, domina as artes plásticas do século XVII, Ludwig
van Beethoven domina o cenário musical do século XIX. A música programática
de Berlioz, a música dramática de Wagner e a música absoluta de Brahms
devem-lhe tudo. Quando Beethoven morreu, em Viena, de cirrose hepática, no dia 26 de
março de 1827, vivia quase na miséria. Mas a sua posição já era a mesma de
hoje: o maior compositor moderno.
Assim como Michelangelo, iniciando o
Barroco, domina as artes plásticas do século XVII, Ludwig van Beethoven domina
o cenário musical do século XIX. A música programática de Berlioz, a música
dramática de Wagner e a música absoluta de Brahms devem-lhe tudo. Um
compositor, como já citado antes, brilhante. Seu temperamento explosivo esteve a
todo o momento presente em suas obras e suas insistências por realizar
composições exclusivas fizeram dele um artista singular, tanto que ficou imortalizado
através delas.
Milhares de pessoas
cultivam a música; poucas porém têm a revelação dessa grande arte.
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